O silêncio faz-se verbo costurado na pele: reflexões sobre memória e corporalidade a partir do visual feminino na sangria malencar(n)ada de Luiza Romão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25094/rtp.2024n41a1063

Palavras-chave:

Poesia brasileira contemporânea, Luiza Romão, Performance e visualidade, Pau-Brasil, Corpo feminino

Resumo

Pensamos que Sangria (2017), de Luiza Romão, merece maior atenção crítica, não só no plano literário mas também no performativo-visual. Através da representação visual do corpo violentado e do silenciamento feminino, Sangria denuncia o trauma histórico herdado e aponta a ruptura com a linguagem verbal como passo prévio à criação de novas genealogias histórico-culturais sob uma perspectiva de gênero. Assim, optamos por uma leitura expandida centrada em dois aspectos fundamentais da obra: o corpo como locus a partir do qual se trabalha o tensionamento da escrita, da reescrita e da sobrescrita, na página e na pele; e o nome próprio (Brasil, Pau-Brasil) como epítome do pensamento masculino, base da história nacional e, portanto, da memória coletiva. A nossa conversa crítica propõe um diálogo entre o livro-calendário de Luiza Romão, obras de artistas pioneiras no campo da performance e o modernismo brasileiro.

Biografia do Autor

Isaac GImenez, University of California, Los Angeles

Pesquisador de pós-doutorado e professor adjunto em Letras e Literaturas Afro-Luso-Brasileiras e Latino-americanas na Universidade de Califórnia, Los Angeles, Estados Unidos.

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Publicado

2024-01-28

Como Citar

GImenez, I. (2024). O silêncio faz-se verbo costurado na pele: reflexões sobre memória e corporalidade a partir do visual feminino na sangria malencar(n)ada de Luiza Romão. Texto Poético, 20(41), 86–106. https://doi.org/10.25094/rtp.2024n41a1063