Da épica do genocídio à poética do testemunho: uma leitura dos versos de José de Anchieta, Renata Machado Tupinambá e Wilberth Salgueiro
DOI:
https://doi.org/10.25094/rtp.2025n45a1169Palavras-chave:
Violência, Extermínio, Trauma, Testemunho, PoesiaResumo
O trabalho parte de uma problematização do poema épico e seus vínculos estruturais com a violência, com base na leitura de Ginzburg (2010b) sobre Os feitos de Mem de Sá, atribuído a José de Anchieta. Ao considerarmos o poema, damos ressalto às figurações do luto pelo ponto de vista de um narrador cúmplice do massacre cristão contra os indígenas. A partir de discussões acerca do gênero adotado por Anchieta, chegamos a duas definições da escola de Frankfurt sobre o épico: o fascismo como epopeia da aniquilação humana, proposta por Benjamin (2012), e o romance contemporâneo como épica negativa, proposta por Adorno (2003a). Do último, abordamos também a teoria lírica e sua ideia de luto compartilhado (Adorno, 2003b), aproximando-a das ideias de Alfredo Bosi (2000) sobre poesia e resistência. À discussão são trazidas as formulações de Ginzburg (2010a) acerca do mínimo na filosofia adorniana e na poética drummondiana, fundadas na ideia da incorporação traumática de experiências totalitárias. Chegamos então à categoria de poesia de testemunho conforme formulada por Salgueiro (2017) e Silva (2013, 2015), salientando a percepção do humor como estratégia linguística de resistência. As categorias de trauma, testemunho, luto e humor são mobilizadas, enfim, para a leitura dos versos de Renata Machado Tupinambá (2021), que rememoram o genocídio indígena, e de Wilberth Salgueiro (2021), que satirizam Jair Bolsonaro e seus eleitores.
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