Percalços compositivos em "Notas de oficina", de Alberto Martins
DOI:
https://doi.org/10.25094/rtp.2010n8a12Resumo
À utopia de um presente forte modernista que edificaria um futuro grandioso, a literatura contemporânea registra riscos, tensões existenciais, violência moral e física, justaposições espaciais, ilusões referenciais. O artista contemporâneo, consciente da incerteza do futuro e da queda das utopias, empurra o presente e aceita supressões temporais. Para reflexão sobre o fato, selecionamos, da produção modernista e contemporânea, os poemas “O elefante”, de Carlos Drummond de Andrade, e “Notas de oficina”, de Alberto Martins. O estudo desses textos deve favorecer a compreensão do diálogo estabelecido entre os dois momentos. O elefante drummondiano, apesar da frágil condição de execução e da indiferença dos leitores, não desestabiliza o criador, que afirma: “Amanhã recomeço”. As “Notas de oficina” registradas pelo eu poético criado por Alberto Martins discutem o sofrimento do criador proveniente do processo criativo e indicam que o corpo do artesão sofre fisicamente as dificuldades do fazer artístico e despende mais tempo de descanso que de execução. A elipse temporal estende-se e impede a criação porque o erro é incompreensível e consequentemente não ajustado pelo eu poético. O artista contemporâneo revela a condição limite entre o fazer discursivo e sua impossibilidade, entre a ignorância e a dor de saber que “alguma coisa está errada”.
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