Infância e memória em meios tons na poesia de Manuel Bandeira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25094/rtp.2024n43a1114

Palavras-chave:

Memória, Oralidade, Infância, Manuel Bandeira, Racismo

Resumo

O presente artigo aborda as possibilidades epistemológicas da infância tendo em vista as dimensões da memória em poemas de Manuel Bandeira. Neste estudo, a memória será compreendida como as experiências e acontecimentos vividos ou expressos de forma tanto individual como coletiva (Hal- bwachs, 1990). O poeta se vale da oralidade como recurso poético na evocação do passado (Bâ, 2010). Nesse sentido, imagens da infância aparecem com frequência associadas ao acervo cultural e identitário do menino nordestino doente, precocemente confrontado com a morte e saudoso do repertório popular presente na gama de conhecimentos cotidianos emanados no verbalismo de can- tigas de roda, brinquedos, propagandas, falas “erradas” e estórias orais. A materialidade do cotidiano e o mistério poético desentranhado do lugar comum, centrais na poética bandeiriana e marcos de efervescência do primeiro modernismo (Arrigucci Jr., 1987), evidenciam o notório comprometi- mento do poeta com o seu lugar e tempo, porém manifestam igualmente resquícios das práticas e pensamentos coloniais e racistas constituintes da “neurose cultural brasileira” (Gonzalez, 2020) que se mantiveram ao longo do século XX.

Biografia do Autor

Miguel Lombas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Doutorando em Estudos Literário pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

Ana Tettamanzy, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Doutora em Letras/Literatura Brasileira; professora titular, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Por- to Alegre, Brasil.

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Publicado

2024-09-29

Como Citar

Lombas, M., & Tettamanzy, A. L. L. . (2024). Infância e memória em meios tons na poesia de Manuel Bandeira. Texto Poético, 20(43), 88–104. https://doi.org/10.25094/rtp.2024n43a1114